A exploração e a destruição da natureza que causou sua morte
em 1988 continua avassaladora e violenta, pois segundo relatório da Global
Witness e da Comissão Pastoral
da Terra, o Brasil é responsável por metade dos assassinatos de pessoas
mortas enquanto investigavam ou protestavam contra atividades de exploração
mineral e outros recursos naturais. É importante observar que esta tendência
estatística é sintomática da competição cada vez mais acirrada por recursos
naturais escassos e a brutalidade e injustiça que vem com ela, ceifando cada
vez mais vidas.
Nós, do
MOC.ECO não desejamos mártires, mas o mundo com sua insanidade continua a produzi-los.
Então temos obrigação de reverenciá-los.Em reverência aos mártires de todos os tempos...
Afinal, o que é um mártir? Um insano que ousa
brincar de Deus ou um homem de fé? Um fugitivo da vida ou um testemunho da
incrível esperança de que esta vida, por sagrada que seja, não é tudo nem um
derradeiro absoluto? A nós homens, basta-nos-ia viver, isto é: nascer e
crescer, dormir e acordar, comer e beber, procriar, prolongar a vida tanto
quanto possível e morrer, como o fazem os bichos? Ou não se sustenta a vida
humana, diferentemente dos animais, também de sonhos e esperanças, de amor e
paixões, de solidariedade e fraternidade, de mais, enfim, do que apenas do bios?
Ou seríamos, quem sabe, apenas uma massa biológica racional, isto é, animais
tão só gradualmente complexificados, mas ainda e sempre apenas bichos?
É isso? Devemos, então, usar toda a capacidade de
nossa razão e a força de nossa inventividade para apenas sobrevivermos e nos
mantermos na vida, um dia, cem dias, um ano, cem anos? A qualquer custo? Mesmo
ao preço de trair uma causa ou delatar alguém, para salvar a própria pele?
Ainda que às custas de perjurar a própria consciência e de abjurar a própria
alma? Mas de que adianta levar adiante a vida, se perde todo o resto: a
honradez, o caráter, a respeitabilidade, a grandeza humana, a dignidade, a
solidária compaixão?
O que é melhor, humanamente? Fugir da morte,
como um desesperado? Ou afrontar o próprio fim, na frágil esperança de que a
morte não é tudo? Aceitar morrer em favor da vida, ou preservar-se
provisoriamente da morte, permanecendo, porém, só e estéril, para sempre? (Jo
12, 24) Será isso possível? Que, às vezes, ganhar a vida é perdê-la? E perder a
vida é ganhá-la? (Jo 15, 5-11) Não morreremos todos, um dia, inarredavelmente?
O que seria, pois, melhor? Viver e morrer por acaso, ou viver e morrer por uma
causa?Uma decisão tão suma, solitária e sagrada que a nós importa apenas aguardar e acatar em silenciosa reverência. O Cristianismo, desde seus primeiros dias, sempre acreditou que aqueles que derramam seu sangue no testemunho da fé, da esperança e da caridade, isto é, os mártires, não são prófugos, desertores ou desprezadores, mas insígnes e intrépidos defensores da vida e, por isso mesmo, santos. Sua morte imerecida é verdadeiramente um sacrifício redentor... não apenas para eles mesmos (batismo de sangue). Uma loucura, aos olhos do mundo... (1Cor 1, 23). Não, porém, para aqueles que crêem, para além de todas as mortes. Para esses, a vida nunca lhes é tirada, mas, contra todas as aparências, transformada e, desfeito seu corpo mortal, ser-lhes-á dado um corpo imperecível.
Frei Prudente Nery - OFMCap
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